terça-feira, outubro 12, 2004

Amor Banal ?

Olhei estupefacto para o fundo da rua.
Tudo estava estranhamente silencioso.
No entanto sentia-me perfeitamente inquieto, como se algo me faltasse.
Procurei nas minhas memórias recentes, algo que me ajudasse a explicar o que sentia, mas estupidamente nada encontrei.
Lembrei-me de todas as vezes que amei alguém.
Depois lembrei-me de todas as vezes que alguém me amou.
Quando tal dei por mim a divagar sobre o que preferia.
A incondicional condição de quem ama e não é amado, ou a escolha intuitiva de quem é amado sem amar.
Descobri que o amor é egocêntrico e individualista.
Surge quase por magia, não pergunta opiniões e por vezes larga a bomba e passa a batata quente para nós.
O problema nem seria grande se não tivesse a ajuda da amiga paixão.
Essa é mais sorrateira. Aparece a qualquer hora sem escolher ou marcar lugar.
Assume formas pouco claras e deturpa-nos as ideias de tal forma que por vezes chegámos a confundi-la com o amor.
Também tem o seu quinhão de egocentrismo.
No meio de tanta teoria achei melhor ignorar algumas ideias e seguir em frente com o raciocínio.
Para me abstrair um pouco das dores do passado lembrei-me do futuro.
Lembrei-me que existe aí um sentimento que ultrapassa todos os demais e que se chama felicidade.
Esse já não é nada egocêntrico e quando surge tende a criar efeitos em cadeia.
Quem não se sente feliz quando está perto de alguém feliz?
Assumi de vez que ser normal não é normal.
Apenas serve para camuflarmos a nossa identidade e arranjarmos desculpas para os nossos segredos mais anormais.
A verdade é que acredito mesmo no amor.
Sinto-o todos os dias.
Acho é que o significado do sentimento perdeu a validade.
Está adulterado, digo eu!
Banalizamos o amor!
Ou melhor a palavra.
O sentimento? Esse...esse é simplesmente e felizmente inalterável.
Por sorte o amor não se explica.
Mas...será que o sentimos da mesma forma?