segunda-feira, dezembro 20, 2004

As pontes do desejo



São enormes e belas as pontes do desejo
Estou entre duas margens
Sei de onde parti, nunca sei onde chegarei
Gosto de atravessar uma ponte
Fecho os olhos e sinto-me num mundo de sonho.

Hoje entraste no meu sonho. Eu tinha partido há pouco tempo numa viagem estranha, confusa, cheia de vozes e pessoas que passavam por mim tão depressa que nem me viam.
Tentava atravessar a ponte para chegar à outra margem e de repente já não era a ponte, nem o rio, nem as luzes do crepúsculo, nem o cheiro da cidade.

Agora eras tu que entravas no meu sonho e no meu quarto e me beijavas em silêncio. Com uma carícia no meu rosto apagaste o ruído que me assustava. Com um abraço doce embrulhaste-me no teu perfume de homem.

Agora já não havia ruas, nem pessoas, nem cidades nas margens da ponte, nem cores fortes que me feriam os olhos.

Agora era o meu corpo nu que se transformava na ponte do teu desejo. Agora era o teu olhar que me desenhava em abraços e beijos que já não eram meus nem teus. Eram nossos. Agora era o teu corpo nu no meu, e a tua pele era o meu prazer e o meu sorriso era o teu gozo.

Agora apagavam-se as margens. Apenas no meu caminho, a ponte onde fomos desejo, onde fomos prazer, onde fomos silêncio e gritos sufocados.

Agora tu e eu éramos a ponte, onde conseguimos parar o tempo.
E desapareceram as margens.