sábado, outubro 23, 2004

Palavras ao Vento

Estava mesmo escuro. Estava mesmo silêncio. Estava mesmo tudo inerte.

Conseguia sentir o frio no meu suspirar, e aparentemente os sons que invulgarmente tentava emitir, caiam no chão ao saír, desfazendo-se como se fossem estalactites.
Era perceptível que nada estava bem.
O realismo era tanto, que pensei até que me tinham feito um paste inside, num filme qualquer do Hitchcock.
Tentei gritar...mas nada do que dizia aparentava ter sentido.
- São só palavras - Pensei, entre dois pontos de exclamação.
- Apenas palavras!!
De seguida surgiu uma luz.
Era uma luz forte, muito brilhante e ligeiramente esverdeada. De início pensei tratar-se de um Verylight, mas rapidamente me lembrei, que nunca havia entrado num estádio de futebol.
Acalmou-me por uns segundos, depois tornou-se extraordinariamente irritante, e insistiu em recordar-me novamente das palavras...de todas elas.
Lembrei-me do que disse, do que ouvi, lembrei até do que nunca tinha sido dito por ninguém.
- Sou só palavras...mas serão elas minhas?
Ocorreu-me se as palavras serão de quem as escreve ou se de quem as lê.
Não cheguei a conclusão nenhuma, e tentei desesperadamente afastar-me da luz.

Nisto, noto que não estou só. Uma presença subtil assume o seu contorno, e surge na minha frente na forma de tablóide. Preto e branco. Frágil e efémero.
Se por um lado me senti tranquilo, por outro fiquei apreensivo, a barriga tremia e não conseguia identificar com certeza de onde surgia o meu pavor.
Pensei em ti para me consolar, para me confortar...não resultou totalmente, mas sosseguei um bocadito.
Depois secretamente, procurei o teu refúgio, como sempre para ver se me encontrava junto de ti.

Vejo teus olhos...Sinto o teu corpo...Respiro o teu cheiro e no fim sinto ainda mais a tua ausência.
Denuncio-me conscientemente, e apelo ao meu instinto que me leve até ti.
Ele por vezes não me responde. Ele por vezes também não sabe o que fazer.
Imagino as coordenadas certas...a meta é viajar para sul. Lá encontrarei o que me faz falta.
Sem explicações assombrosas, vou saber finalmente que a saudade irrita-me apenas porque queria estar mais perto de ti, e daqueles ideais que despertas em mim.
Permito-me sonhar mais um pouco, e emergir na loucura constante que é nada saber de concreto...sei que existes, também sei que por certo também existo...mas... Esqueço-me de meus segredos, e invejo os teus. Apenas e só, por serem teus.

Sou só palavras, concluí...depois, esqueci-me de ser esquecido!