segunda-feira, novembro 01, 2004

Confissões

Confesso-me agora que já não tenho tempo para me corrigir.
Eu sou uma farsa. Eu sou uma treta. Eu sou apenas um sonho meu.
Confuso, complicado e sem nenhuma ligação com a realidade. Ou será que não sou nada disto?
Na minha cabeça correm memórias sem ligação aparente. Um conjunto de nomes femininos com forte entoação no plural.
Surgem por ordem alfabética, sendo que o alfabeto neste caso é o tempo ordenado de forma aleatória e perfeitamente desordenada.
Mergulhado num mar de whisky e drogas leves, perdi-me por completo no contorno de corpos frágeis e efémeros.
As Marias, as Manuelas, as Fernandas e as Cristinas. As Sofias, as Susanas, as Carolinas e as Andreias.
Na minha mente surgem indefenidas e misturadas numa só.
Quero ser outra pessoa. Quero ser a pessoa que já fui sem saber que iria ser.
Estou confuso. Já não sei o que é real e o que é ficção. O pior é que não sei sequer se quero saber.
A vida corre mais rápida que o tempo marcado pelo relógio que alguém me ofereceu em sinal de carinho.
Só me ocorre um final. E nele não quero eu pensar.
Confesso-me parvo e delinquente. Confesso-me atordoado e adormecido. Fraco e obscuro.
Refugio-me inesperadamente na minha mais recente criação amorosa e lá me deixo pousar firmemente.
A vida não é o que eu penso nem tão pouco o que vejo ou sonho.

A verdade é que não sei o que sou.
Homem, animal ou simplesmente uma sombra.
Sequei. Não quero mais memórias nem sequer oportunidades de as ter.
Quero ser feliz mas não posso. Não posso nem devo. Não as mereço e pronto!
Afinal, sou muito mais do que já fiz e do que deixei de fazer, não?

Não me lamento, mas arrependo-me de tanta coisa.
Já não sei o que sou. Desisto. Não me permito mais sonhar com a realidade.
Hoje quero ser apenas um desejo. O meu desejo!

Há uns tempos escrevi um pedido de desculpas que não significava nada em concreto.
Hoje reli-o e vi-me nele como nunca me tinha visto antes.

Que me desculpem esta necessidade de pedir desculpas,
Mas desculpem a minha ignorância.
Desculpem também as minhas falhas e as minhas hesitações.
Desculpem os meus dedos, e também porque não, os meus medos.
Desculpem as minhas ideias e os meus sonhos
E já agora desculpem igualmente os meus pensamentos enfadonhos.
Desculpem a minha teimosia e a minha forma de estar
Desculpem o que digo e também o que não digo
Desculpem a minha memória e a minha histeria
E pelo sim pelo não, desculpem também a minha euforia.

Que me desculpem esta necessidade de pedir desculpas,
Mas desculpem a minha ignorância.
Desculpem também a minha hipocrisia e a minha sinceridade
Desculpem as minhas incoerências e as minhas meias verdades
Desculpem os meus desejos, e também porque não, os meus belos cabelos
E já agora desculpem igualmente esta falta de vontade
Desculpem as minhas hormonas e os meus hematomas
Desculpem o que escrevo e o que mantenho em segredo
Desculpem a minha distancia e a minha importancia
E pelo sim pelo não, desculpem também a minha arrogância.