domingo, janeiro 30, 2005

A Fotografia do Post Anterior



Há tantas estrelas no céu. Mas estão a milhões de anos luz de nós. Há tantas estrelas aqui mesmo ao pé do meu coração. Estas foram desenhadas com paixão e criatividade. É essa a matéria com que se faz o amor.

sábado, janeiro 29, 2005

E agora...

E agora, vamos sacudir o pó às nuvens e puxar o brilho às estrelas.




(a fotografia deste post tem o meu enquadramento. está perfeito. a iluminação é convosco.)

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Sublimação (letras e sons)

Sublimação

chego ao meu destino
a luz tornou-se aquela pela qual eu esperei todo o inverno
o meu dia foi de visitas ao presente
e de sorrisos ao passado
as ruas ainda lá estão
o jardim é o mesmo
os 20 anos que tivemos não morrem nunca, não é, meu amor?
a música acolhe o sossego de um fim de tarde diferente...

Perfect Day
lou reed

neste dia não foi preciso escrever
neste dia disse-te duas frases
neste dia respondeste-me duas frases
neste dia não foi preciso sermos brilhantes
(as estrelas vão brilhando.... por nós)

neste dia não sei onde estás
neste dia não sabes de mim

neste dia sei que me és
neste dia sei que te sou

nos espaços que me trazem o aroma de mim
nas ruas onde tu poderias passear do outro lado do passeio
piscando o olho à vida, com o teu seguro de felicidade
pago e com prémio seguro....
nas casas apalaçadas, que de tão lindas, foram abafadas
por prédios feitos de vidros tão frios...
viramos a cara e encontramos uma esquina, um sítio escondido,
onde até, nos poderíamos ter beijado....
(como se um beijo fosse melhor que te saber nesta vida...)

passeias comigo...

Walk On The Wild Side
lou reed

e recitamos poemas de cor
todos trocados, porque não os sabemos de cor... e eu digo
neste dia sei que me és
neste dia sei que te sou

e tu dizes uma letra, a minha
e eu digo três letras, as tuas....

e sigo o meu dia...

maio de 2004 editado em mulheres em chamas


a fotografia é minha e não tem nada que saber. é apontar a lente para o sol e disparar. não tem enquadramento e a luz deve estar toda mal medida. mas é minha e é de hoje.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Há dias assim.

Passei o dia todo à procura dele.
Corri léguas de asfalto...
Desbravei florestas em perigo... (delas ou meu?)

Atravessei estradas sem passadeiras...
Guiei sem o cinto de segurança...
Estacionei em locais proibidos...
Ultrapassei barreiras de silêncio...
Tive uma multa por excesso de optimismo...
Vi sorrisos quase felizes...
Ouvi quase um lamento e mandei-o calar.
Fiz malabarismos para conseguir uma imagem aceitável...

Escrevi uma frase quase, quase...
Imitei os profissionais...

O lamento já era um riso...
Fui palhaço de circo...
Empurrei os choros para dentro das caixas negras dos aviões que estão ainda em terra...

Rasguei a multa, porque estava molhada de lágrimas de chuva...

Olhei para o relógio. Apenas uma vez. O Tempo tinha de ser meu hoje...

Amnistiei as ansiedades...
Bebi trinta cafés e fumei outros tantos cigarros às escondidas dos radicais...
Apanhei chuva, molhei a alma e o corpo...
Sei que vou escrever o todo da frase... Falta apenas um ponto ou uma vírgula. Coisa pouca...
Não desisti...
Fiz uma pessoa feliz...
Respirei fundo... tinha o dia ganho?

Editado em Mulheres em Chamas


Há dias assim, como este que escrevi há séculos atrás.

Nesse dia, eu procurava o Arco-íris.

Hoje não procurei nada. Hoje cumpri missões. Senti-me no limiar de mim. À beira das forças. Apeteceu-me desistir. Render-me. Hastear a bandeira branca e fechar os olhos.
Cansada. Exausta. Chega de poemas. Hoje não sou fada, nem bruxa, nem borboleta, nem palhaço, nem flor. Nem prazer de mim. Chega de palavras.

Mas a vida é um carrossel. Há quem diga que a vida é uma puta. Eu gosto mais de a imaginar como uma montanha russa. Se bem, que respeite as putas. Um dia hei-de escrever um poema sobre uma puta que “vivia” na esquina onde eu passava todos os dias da minha juventude a caminho do liceu. Não. Não vou escrever um poema sobre ela. Um dia, hei-de conhecer-lhe o coração. Eu e ela, nunca nos falámos, mas trocávamos olhares. Ela sabia que eu adivinhava, eu sabia que ela se escondia do meu olhar. Ela era tão feia, eu era tão ignorante. Por isso, sei que nos iremos encontrar um dia. Porque eu já sei mais umas coisas (poucas) e ela já se tornou bonita no meu olhar.

E a minha montanha russa, dirão vocês?
Pois é. Não houve arco-íris no meu dia de hoje. Houve um frio que me percorre há anos, houve a tristeza infinita que me acompanha nas caminhadas, houve a noite que chega antes da hora prevista.

Mas, mas, mas…
Mas houve abraços quentes no meu pescoço de saudades recuperadas no fim do dia, houve uma ternura por um amigo lá longe de saudades por matar que me deu, houve uma gargalhada que soltei.
Na volta, ganhei um arco-íris. Ganhei um dia.


sexta-feira, janeiro 21, 2005

Caso único

shave.jpg

Decidi agora que vou ter um caso comigo mesmo.
Vou amar-me perdidamente e dedicar-me inteirinho a fazer-me feliz.
Vou beijar-me sempre que me apetecer e fazer cafonés na cabecinha sempre que me sentir mimalho.
É isso mesmo! Vou ter um caso comigo e pronto.
Aposto que nunca ninguém terá sido tão feliz quanto eu vou ser a partir de agora.
Deliciar-me a solo, falar do meu dia a dia comigo mesmo, fazer-me apenas as refeições que eu mais gosto.
Enfim, entender-me comigo daquela forma tão especial que só eu mesmo vou conseguir fazer.
Juro que me vou fazer feliz, e só não prometo gerações vindouras porque ainda não estão nos nossos planos.
Nem nos meus, nem nos meus.
Já me estou a ver, correndo nu na areia lado a lado comigo mesmo, a sentir o chlap das ondas nos meus pés e nos meus também.
Depois ficarei eu e eu, juntinhos a ver o sol se pôr.
Aí sim, serei todo meu e apenas meu.

Afinal de contas, se eu não gostar de mim, quem gostará?
Eu?

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Mãe

Viagem ao futuro de um passado presente.

Por vezes na vida temos de visitar a nossa infância. Os anos do passado pedem-nos o nosso corpo e a nossa idade, e de filhos tornamo-nos pais dos pais, que sem a gente dar conta se fizeram velhos e voltaram a ser crianças.

E então, o cosmos anda às avessas, calçamos as peúgas de renda branca e os sapatos de verniz com o odiado lacinho, vestimos uma saia plissada azul que cheira a dias de escola e ouvimos o Carlos Gardel cheio de magia e ruído de gira discos de vinil que ainda funciona.

Sempre me fascinou a agulha do gira discos, sabias?. Tão fina e frágil, deu-me os melhores momentos musicais da minha infância. Nesse tempo partir uma agulha era tão grave como faltar a um convívio de Liceu.


e amparo-te agora com as minhas mãos
guio os teus passos lentos que terminam a sua caminhada

e sou eu que te pego ao colo
na tua gargalhada infantil tão assustada

e sou eu que te alimento
desenho sabores que me ensinaste a colorir

e sou eu os teus olhos nos teus dias cinzentos
falo-te das tonalidades das almas
que te ensino que vêem mais que os teus olhos cansados
de tanto ter visto

e sou apenas o teu sonho de passado,
correndo descalça pela casa
que ainda cheira a tabaco amado de cachimbo

e agora invento histórias de embalar para ti
e digo-te que a vida é feliz e colorida
como as fotografias a preto e branco
que descobri dentro de uma caixa
forrada a papel brilhante com estrelas de natal


E trouxe comigo a minha música. O Gardel ensinou-me o Piazzola.
trágico
sonho
mágico
vida.

Passado e sempre presente no meu futuro. O Cosmos já faz sentido. O círculo completa-se por fim. O Tango é o melhor amante das noites de solidão.


terça-feira, janeiro 18, 2005

Hoje sonhei contigo

na minha doçura te fazes homem
na minha calma te nomeias
no desejo do meu corpo por descobrir
serás apenas um deus que se passeia
na minha tristeza alegre
e na minha maré de mágoas.

eu e tu nada seremos...
apenas Homem e Mulher.

e no espasmo do desejo
na violência dos trovões
nas explosões de primavera
nos desesperos de terra por lavrar

descobriremos a ilha que nos acolherá
salvaremos as almas por descobrir
faremos amor sem pressa
como um vulcão que cumpre o seu destino
como uma flor que morre na estação devida.

seremos apenas loucos,
no dia em que a terra for o espasmo
dos nossos orgasmos de sorrir e chorar
e de espanto de ser...


sem imagens, porque os sonhos não se deixam fotografar

sábado, janeiro 15, 2005

Repetez avec moi

sexy.jpg

Pois é, hoje apetece-me ser infiel aos meus conceitos abstraccionistas. Juro que acordei com tendências homicidas. Um a um fui matando os meus sonhos velhos para que ganhasse espaço na criatividade para os mais recentes. Sabes porquê? Apenas porque descobri que todos os sonhos têm um tempo certo. Chama-lhe prazo de validade se quiseres.
Apetece-me ter apetite por coisas actuais, não precisam ser novidade, basta que sejam actuais, entendes?

Olhei atentamente para o chão procurando vestígios daquelas ultimas horas que passamos juntos a fazer amor.
O soalho ainda cheirava ao teu sexo, sinal que afinal só tinhas ido embora uns momentos antes.
Espreguicei-me com força de forma a colocar todas as vértebras no lugar e ergui-me num salto para que o dia se tornasse enérgico.
Devorei dos iogurtes de seguida, acompanhados pelos deliciosos biscoitos de manteiga que a tua tia mandou pelos teus pais.
Os desgraçados são mesmos bons. Ideais para manter a vontade de os comer mais e mais.

Talvez hoje rape a barba, ou talvez ainda não seja desta que o faço. No entanto já comecei a ponderar fazê-lo. Aqui está uma atitude nova em mim.
Ponderar as coisas...
Acabo de me lembrar de algo que não te posso contar. A boazona do bar do Alcides que tu dizes estar sempre a fazer-me olhinhos, disse-me ontem enquanto te esperava que eu era bem mais interessante quando estava sozinho. Passei-me mas sei que não irias acreditar. Afinal eu nunca lhe resisti não é mesmo?
A verdade é que fiquei a pensar nisso. Podia ser simples conversa de engate, mas a verdade é que a míuda foi convincente. Fiz bem em ignorá-la, já o mesmo não consigo fazer em relação às palavras dela.

Já hoje a seguir ao almoço reparei num frase escrita numa parede mesmo ali por debaixo da ponte. " Não estamos bem! " dizia ilustrado por uns olhos irrealistas com um toque minimalista.
Impressionou-me. Afinal quem sofre e porquê? Achei que se tratava de uma globalização de um qualquer sentimento de insatisfação tão caracteristico da nossa sociedade, mas logo a seguir comprei o jornal e li a noticia de mais um suícidio absurdo de um jovem de 17 anos. Claro que não foi ele que escreveu as tais palavras, mas não pude evitar pensar em quantas vezes ele teria tentado chamar a atenção dos outros para a dor que sentia. Parece-me óbvio que ninguém o ouviu. Se ouviram, então não terão escutado.
Depois lembrei-me das vezes que digo sim e não e talvez, sem sequer prestar atenção ao que me dizem.
Tenho mesmo de ponderar as coisas e ouvir com os olhos mais abertos.
Já devo ter perdido muita coisa importante e interessante por me deixar desligar nos momentos menos oportunos.

Caramba...tenho de estar mais atento aos momentos do dia.
E afinal de contas, o que é que é mesmo ser actual?
Insisto...vou perder-me em palavras.

sexta-feira, janeiro 14, 2005

À tua janela


Acordo com o sabor da noite nos lábios
vejo-me gata em telhado de zinco quente
ainda no reflexo da manhã em desalinho
desenho um rectângulo em branco no meu espelho

Com o dedo desenho no vidro
o contorno do meu corpo
com os lábios em surdina te nomeio
o reflexo brilhante devolve-me em desejo
surdo.. mudo.

Preciso de uma fotografia
Preciso das palavras feitas de cores e linhas.

Faço então a viagem necessária
até à tua janela, com o rio ao fundo
onde poso vaidosa para ti.

Na tua janela
onde me despes lentamente
onde beijas de olhos abertos o desenho
dos meu contornos
onde beijas de olhos claros o gemido
das minha cores.

Na tua janela
Recriamos o amor dos corpos reconhecidos
Reinventamos os sons do comboio aqui tão perto
Saboreamos os dias perdidos…
E enchemo-nos de azul….
Com o rio ao fundo. Lá ao fundo….
da tua janela



quinta-feira, janeiro 13, 2005

Crónica do dia com estórias

Dia de viagens na grande cidade. Opção inicial. Transporte ideal. Opto. Metro e Autocarro. Barato e sem complicações. Escuso de me preocupar com o estacionamento. Vamos a isto que se faz tarde.
Estação terminal de Metropolitano. Tanta gente que não conheço, que aparenta pressa, cafetarias a abarrotar, café é urgente tomar.

Vamos lá à bica tirada por um senhor de lhos claros e cabelo curtinho, a lembrar terras frias, coadjuvado por uma menina de olhos escuros a lembrar terras quentes. Sotaques variados, mesmo o salário mínimo cá ainda dá para irem vivendo com meia dúzia de colegas num quarto alugado.

Oiço música. Identifico o instrumento. Acordeão. A melodia é suave e impõe-se no ruído da turba que começa a jorna. Procuro a origem do som que me agrada muito. Vejo-os. Dois homens de meia idade. Trazem nas rugas do rosto estórias que adivinho, um deles acaricia as teclas do acordeão e dele faz maravilhas, o outro tem uma pandeireta na não com algumas (poucas) moedas. Aproximam-se do meu espaço, invadem-no e eu espero que a música venha até mim... já adivinho o café perfumado de acordes...

Desperto do sonho, com uma voz metálica – “Olhem lá, não podem estar aqui!!!” Fere-me outra voz agreste – “Vão trabalhar!!! Há p’rai muito trabalho!!!” Estala-me no rosto ainda outra voz – “Isto não é sítio de andar a pedir!!!.”

Pedir??? Então este homem e o seu acordeão oferecem-me este prazer da sua música, apagando o som terrível do cavalo de aço que me engole... Procuro a carteira. Deito umas moedas envergonhadas na pandeireta e cruzo um olhar cúmplice. Ofereço um sorriso. Porque sou cobarde. Devia ter dançado com eles e saber das festas que faziam no seu país que morre de tristeza...

Avanço no meu dia, deixo-me engolir.

Espero pelo autocarro, que tem hora marcada. Aproveito para fazer 30 telefonemas. Novo número, agora para o Porto (aqui tão perto e eu quase morta no deserto... ) Responde-me uma voz de desprezo.. "o teu saldo Yorn não te permite fazer a ligação." Mas quem é esta gaja? Conhece-me de algum lado para me tratar por tu?? Percebo então que diz o mesmo a todos, a oferecida.. Percebo que tenho de procurar uma máquina que me resolva o problema. De máquinas percebo.. um pouco. Cartão. Código. Pressa. Oiço uma nova voz.
"Tenho fome, compras-me uma sandes?" Só me faltava isto. Olho para o lado. Tenho de baixar o olhar. A emissora da voz é pequenina. Aliás são duas. "Agora não posso. Tenho de carregar o telemóvel." Mas que raio de resposta é esta? Fui eu que falei? Olho para elas e para o ecran que me pede um número.

Um olho no burro outro no cigano… agora é que o ditado bate na mouche.

Lindas.. uns dez anos bem vividos. Cor de pele morena, contrastando com o dourado do cabelo. "O que foi??" "Uma sandes?" "Quanto custa uma sandes?" "4 euros". Onde está o número do telemóvel? Carteira. O número.. Não tenho moedas. O número.. "Não tens nada?" ... Tenho tudo, quero cá saber do número, procuro no fundo da mala.. depósito de trocos preguiçosos do porta moedas. Agarro nas que me saltam nos dedos. "Chega para a sandes?" Não sabem , mas querem dividir, não sabem fazer as contas, mas sabem o que é partilhar. Pronto.. estou rendida.. "E a escola, hoje não houve?" (como se eu não soubesse a resposta) "Não vamos à escola" Porquê? .. (cá foi a pergunta parva.) "Mudámos de casa e não temos registo."

Registo. O seu registo fica no meu coração. Fico no delas por segundos. Falamos como mulheres que somos. A escola. - "Vejam lá se há alguém que vos possa por na escola outra vez"... Elas gostavam da escola (como se eu não soubesse a inteligência e vontade de aprender destas crianças...)

Procuro as últimas moedas. Damos beijinhos. Tinham fome, sim.. de ser gente e de poder crescer no mesmo mundo em que eu vivo... Serão mulheres lindas, poderiam ser chefes do mundo...

Telemóvel mudo. Viagem até ao fim... Termino as tarefas.

Fim de dia. Café da moda. O sotaque quente dos meninos e meninas que servem as bicas e as águas tónicas, adivinha gente que saiu do seu lindo país à procura do Eldorado. Oxalá o encontrem... Sento-me sedutora. Amigo de longa data partilha a crónica do meu dia. Tá-se bem.. Estamos em casa.

Ouço a última voz... Minha senhora, pode dar-me um cigarro? Foco a objectiva do meu olhar. Homem ainda jovem, olhos claros, "vens do Leste? vens de onde não te querem?" dou-te o cigarro, dou-te o maço, dou-te a minha alma. Já cheguei ao fim....

No próximo dia em que tiver vontade de me encher da cidade, irei de carro. Prometo que vos trago um arrumador.



segunda-feira, janeiro 10, 2005

O que poderemos fazer senão Viver?



Rick: If that plane leaves the ground and you're not with him, you'll regret it.
Ilsa: No.
Rick: Maybe not today, and maybe not tomorrow, but soon, and for the rest of your life.
Ilsa: What about us?
Rick: We'll always have Paris.





Frankly, my dear, I don't give a damn!



A vida é a dos filmes. Grandes amores. Grandes personagens. Soberbos diálogos. A vida está nos acordes que os génios inventam no silêncio da sua criatividade. Tanta que me dói o talento de que percebe esta linguagem mágica dos sons...A vida está nos livros que levam sempre um Homem ou uma Mulher lá dentro. Os livros só são de quem os possui enquanto estão dentro das suas canetas.... até os posso deitar no lixo.. já devorei quem lá ia dentro.


Não oiço o silêncio. Até aqui, neste espaço cruel, eu oiço o sussurrar de música por ouvir....Guardo os meus filmes e os meus livros em segredo.

Inventamos todos histórias. Quem somos nós, se não fadas, palhaços, borboletas, princesas de um conto de fadas?

Hoje chorei como quem chove... mas foi aquela chuva que vem entre um arco íris e outro...

Nem se deu conta das lágrimas... não haverá história da água de hoje.

O filme da nossa vida é a ficção possível. Não ganha globos de ouro nem Óscares. Será que se ganha a existência?


sexta-feira, janeiro 07, 2005

Tempurárius

comks13113.jpg

Já viste como corre ligeiro o tempo? Como passado e presente se fundem num só de forma a confundir-nos as ideias?
O melhor é esperar pelo futuro. Ele virá solarengo e despreocupado. Ele é sempre assim que vem.
Nós é que complicamos tudo. Uns chamam-lhe ambição, outros impaciencia, eu chamo-lhe apenas insatisfação.
Já vi e revi o filme dos ultimos tempos dezenas de vezes. O que me deixa preocupado é que tudo está deliciosamente bem.
Assim, porque diabos estou eu insatisfeito? Na verdade não faço a mais pequena ideia e pior do que isso nem sei se quero fazer..
Remexi nas gavetas antigas, limpei o pó aos livros menos utilizados e descobri que tal como todas as pessoas também eu colecciono bocados da minha vida, na forma de objectos.
Prestei uma atenção especial à foto dos meus avós. A falta que eles me fazem. Deixei-me recordar a minha meninice e lembrei aqueles cheiros saborosos que insistiam em sair da cozinha da minha avó.
Confesso que ainda hoje me babo ligeiramente a pensar neles, e esta vez não foi excepção. Uma pinga persistente saiu da minha boca para apenas parar ao atingir um postal da Austrália exactamente na frase "amigos para sempre".

Lembrei-me do Zé, que emigrara com os pais para lá tinha eu 12 anos.
O para sempre é sempre relativo, mas sempre existe uma altura ou outra em que ele tem significado.
Foi esse sentimento que me envolveu durante uma boa meia hora.

Depois disso, regressei ao presente apenas para te certificar que o amor também é assim.
Entendi que tudo muda, mas também entendi que apenas a forma de amar se vai alterando.
Isso é crescer. Isso é natural. Isso é suposto ser mesmo assim.
Não te amo mais como quando saímos da faculdade, isso é verdade. Mas sabes que mais? Ainda bem!
Hoje entendemo-nos melhor, e admito que me sabe muito bem quando parece que lês meu pensamento e antecipas qualquer movimento que eu possa tomar.
Também eu gosto de te colocar o cabelo para trás da orelha antes que tu mesma o faças.

Está tudo bem. Mas ainda assim preciso verificar uma lista infindavel de prioridades.
Acho que a ordem está toda errada.
Desculpa se me ausentei. Mas preciso desta distância.
Desliguei a tv e deitei-me no puf preto a ouvir música.
Depois deixei-me levar pela cadência do ritmo, e decidi :
- Preciso de arranjar tempo para dar tempo ao tempo.

quarta-feira, janeiro 05, 2005

Que Mais Podemos Fazer Senão dançar?


Romeu e Julieta, Fotografia de Ana Esquível


Era ela sim. Ou era eu. Ou era uma alma embrulhada em corpo de seda, sonho de paixões e de devaneios que se transformam em músicas de nostalgia.
Ela entrou no quarto. Eu fui ela. A noite avizinhava-se. A luz do quarto estava apagada. Entrava pela janela o néon decadente do cabaré em frente. Ouviam-se tons de jazz ao luar.
Ele esperava deitado em abandono de corpo que se oferece. O seu olhar dizia tudo. O teu olhar dispensava as palavras banais - amo-te, quero-te.
O vestido preto dela despia-se sozinho. Apenas um véu feito de luz, translúcida a separava do teu olhar.

Quem somos nós?

A música insinuava-se como uma serpente de cristal no meio dos nossos corpos.
Já não havia quarto, a cama já era um palco, já não havia o dia de então.

Só a lua, as luzes multicores e os acordes da música no meu corpo....



Sonho de Uma Noite de Verão. Fotografia de Rodrigo César

Fotos da Companhia Nacional de Bailado