domingo, novembro 28, 2004

Violet

Esta cor não é simples
É feita de vermelho paixão de hoje da minha pele morna
de azul da ternura de sempre dos corpos que se falam
e de branco que se adivinha…

Esta cor é feita de sonhos e de desejos.

Esta cor será pintada quando me amares.

Vesti-la-ei quando abrires a tua porta e eu estiver lá

Será pintada de almas, de sorrisos, de suspiros, desenhada nos orgasmos coloridos que se colam às telas que ficarão para a memória.
Telas que dançarão o desejo de cada dia. Cores que são nossas. Disfarçadas em beijos na boca. Escondidas em toques de pele de seda por colorir.

E conhecerás a minha cor. É feita de paixão, de pele e de ternura.

Termina aqui esta pequena trilogia das cores.
Feita num apeadeiro.
Vermelho Azul e Violeta.





TrainSpots do Efe

sábado, novembro 27, 2004

Blue

Espreito-me num dia que gostaria de ter pintado de outra cor.
Andei por aí à procura dela.
Tive sede. Bebi água.
Procurei-a no fundo do copo
No fundo das almas de quem passou por mim
No fundo de mim

No fundo, sei onde se encontra essa cor
que me faltou.

Espreito-me num dia que gostaria de ter pintado de azul.
Andei por aí à procura dele.
Ainda tenho sede.
Procurei-o no fundo do meu corpo
No fundo do mar feito de desejo em ondas.

Está tão perto este azul…
Quase que o saboreio ao esticar a mão
Quase que o adivinho à minha janela
Quase que o bebo..
Quase quase….

À superfície do meu olhar
E no fundo do teu…



peepingtom do Efe


quarta-feira, novembro 24, 2004

Red

A partir de hoje cada dia terá uma cor. Não direi já neste momento, nem esta noite, qual a cor que prefiro.
Prefiro que sejam as cores a escolherem-me, conforme as suas vontades de mim.
Há cores e palavras de que gosto muito. Violeta, oásis, magenta, ilha, mar, concha, branco, pai, azul e verde.
Também gosto da palavra amor que invento para ti e da cor do teu sorriso que te desenho por vezes…

Há outra palavra que me sabe a chocolate macio e morno e que me apetece sempre lamber… Bliss.

É uma palavra que se saboreia. Bliss. Dela faria um bolo branco de noiva coberto de rosas vermelhas.

A felicidade é erótica. Talvez porque chega de mansinho mascarada em cores pastel e se torna imensa em volúpia cor de fogo. Como quem faz amor. Como quem diz amo-te.

Enfim. Gosto de vermelho. É um segredo meu. Tão secreto como o amor.

Danças do Efe

Felicidade

Gosto de escrever sobre a Felicidade.
Há sentimentos que deviam ser obrigatórios todos os dias do ano. Como o Natal. Um dia por ano para um sentimento, não chega. Assim todos os outros dias seriam nossos também.

Eu escolhia um dia por ano para celebrar a Felicidade. Mas teria de ser um dia comprido, porque há várias formas de celebrar a Felicidade.
Há várias Felicidades.

Uma delas é a Real. A que nos preenche o corpo como uma doce energia. Dessa, tive notícia a primeira vez que amei alguém. Essa nunca se esgota.

Outra Felicidade é a Passageira. A que vem com a maré-cheia ou com o por do sol. Tratamos dela como uma guloseima, saboreamo-la com vinhos verdes de poesia e música e deixamos que ela nos invada suavemente. Essa é minha companheira de aventuras.

Há outra Felicidade. A Criativa. Esta surge com um dia de chuva em que brilha o Sol. Abraça-nos em bebedeiras de todas as cores e faz com que pintemos um quadro ou com que dancemos ao luar ou então manda-nos escrever um poema com o título “arco-íris-muito-feliz-por-estar-contente”.
Desta felicidade sou íntimo. Divertimo-nos imenso os dois.

Depois há a Outra. A Felicidade só Minha. Dessa não vos darei conta. Mas prometo que deixarei que ela dê conta de mim…

Ahhh. Eu sabia. Nunca conseguirei escrever um texto sobre a Felicidade.

terça-feira, novembro 23, 2004

Tristeza

Não gosto de escrever sobre a Tristeza.
Há sentimentos que só deviam ser permitidos uma vez por ano. Como o Natal. Um dia por ano para um sentimento, chega. Todos os outros dias seriam nossos.

Eu escolhia a Tristeza para celebrar num só dia. Mas teria de ser um dia comprido, porque há várias formas de celebrar a Tristeza.
Há várias Tristezas.

Uma delas é a Real. A que nos preenche o corpo como uma doença. Dessa, tive notícia quando me morreu o meu Pai. Dessa nunca nos curamos.

Outra Tristeza é a Passageira. A que vem com a maré-cheia ou com o por do sol. Tratamos dela como uma gripe, tomamos uns chás verdes de poesia e música e deixamos que ela nos invada suavemente. Essa é minha companheira de mágoas.

Há outra Tristeza. A Criativa. Esta surge com um dia de chuva em que brilha o Sol. Abraça-nos em bebedeiras de azul e faz com que pintemos um quadro ou com que dancemos ao luar ou então mando-nos escrever um poema com o título “arco-íris”.
Desta tristeza sou íntima. Divertimo-nos imenso as duas.

Depois há a Outra. A Tristeza só Minha. Dessa não vos darei conta. Mas também não deixarei que ela dê conta de mim…

Ahhh. Eu sabia. Nunca conseguirei escrever um texto sobre a Tristeza.
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A Felicidade
Antonio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta feira

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite
Passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Prá que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

segunda-feira, novembro 22, 2004

Re-post da memória

Inspirado por espelhos mágicos reponho este texto reciclado de alguns sonhos menos precoces.

Quantas imagens passam por mim diariamente?
Tentei fazer um cálculo, e decidi que seriam bastantes.
Curiosamente não me recordo de muitas.
No entanto descobri que me lembro com grande definição, de imagens que só existem na minha imaginação.
Lembro de lugares, lembro de pessoas, de sons, de paladares, até de odores eu lembro.
Existe uma pelo menos que já vem desde a infância.
As outras, seguem atrás dessa por uma ordem aparentemente cronológica.
Obviamente tenho as minhas preferidas.
Mas podem esquecer já...não vou descrevê-las.
Acontece que falar das coisas, não se trata de dizer como elas parecem ser, nem tão pouco de as descrever como se todos os outros fossem invisuais.
Falar das coisas é falar delas simplesmente.
Uma breve referência ou citação e zás...ela existem, reais e gloriosas.
Posso adiantar mais qualquer coisita...as coisas não têm uma cor fixa, nem as pessoas e nem muito menos os sentimentos. Uns dias posso até ser azul e pensar que estou vermelho.
As coisas têm apenas a lógica que queremos que elas tenham.
As pessoas também.
É verdade que o meu carro é verde, que os meus olhos são azuis, mas e se não fossem?
Já não seria eu?
Então não existo para os daltónicos é?
Outro dia revi um filme que jurava ter amado e recordava dele a preto e branco.
Afinal era a cores e nem sequer gostei tanto dele quanto isso.
O que eu sei é que passam por mim diariamente bastantes imagens.
Curiosamente não me recordo de muitas.
E tu? De quantas pessoas te recordas?

domingo, novembro 21, 2004

Confissões

On and on the rain will fall
Like tears from a star like tears from a star
On and on the rain will say
How fragile we are how fragile we are
STING "Fragile"



Há dias em que nos chove por dentro. E sonhamos com estrelas toda a noite em pesadelos que não compreendemos. Como no dia em que nos olhamos ao espelho e vemos o outro lado.

Quando eu era menina tinha uma companheira de brincadeira. Chamava-se Luisinha e era igual a mim. Morava no espelho da minha sala. Tínhamos conversas intermináveis, mas por vezes ela estava triste. Não podia sair daquela sala igual à minha, mas toda desenhada ao contrário… Eu empurrava o espelho devagarinho, fechava os olhos e pedia por favor ser igual à Alice para poder ir brincar mais perto da minha amiga.

Cresci… Tive outros espelhos. Outras salas. Outras amigas. Outros amores.Tenho saudades da Luisinha. Não faço ideia se encontrou outras meninas para brincar, se alguma outra menina igual a mim conseguiu entrar no outro lado do espelho.

E depois vieram os dias em que nos chove por dentro. Os dias em que nos esquecemos dos sonhos. Os dias em que temos tanta pressa que fechamos os olhos e a alma.

E um dia abre-se uma janela. Um espelho mágico. E do outro lado está o outro lado de mim. E sei que na tua janela está o teu outro Eu. Ou o teu outro Tu. E eras tu, meu amor, que ainda és desejo, sorrisos, palavras e carícias, mas adivinho que sempre estiveste na minha vida… E adivinho-te nos meus sonhos.

E depois há dias mesmo fantásticos. Quando andava eu à procura da chave para o jardim encantado de mim, recebo um mail de um amigo. Assim… sem mais nada… Gostas de barcos? Ofereço-te este…

Afinal… há dias em que nos nascem arco-íris na alma…



Fotografia do Ognid




sexta-feira, novembro 19, 2004

Aromas e Sabores



Hoje era dia de escrever, mas fugiram-me as palavras. Desenho aromas e sabores até que elas voltem.


em jogos de palavras
sonhamos os arco íris apenas azuis
que guardamos em arcas mágicas
com os sorrisos as estrelas e as flores

quinta-feira, novembro 18, 2004

Black and White

etnic.jpg

Hoje espalhei todas as cores à minha frente para que finalmente pudesse decidir de qual gostava mais.

O vermelho é quente e extremamente adocicado. Faz-me pensar em volupia.
O laranja é morno e com um cheiro mágico. Faz-me sonhar com o verão.
O verde é semi-frio e repleto de luz. Faz-me lembrar chicletes super gorila de mentol.
O azul é frio e totalmente húmido. Faz-me pensar em montanhas com neve.

E assim fui, cor a cor...uma a uma.

Rôxo não aprecio e lilás é a cor do sabão.
O amarelo é a cor dos tolos, e o beige lembra-me a casca do pão.
O preto não é cor e o branco também não.
Só sei que no fim de tudo cheguei à seguinte conclusão:

Mais vale misturar cores que tentar acabar as frases em ão!

terça-feira, novembro 16, 2004

Redes

Em redes nos perdemos. Com redes tecemos vidas e sonhos.
A nossa, os nossos, os dos outros. E desenhamos estórias.
Enredos que vamos contando em afectos, feitos de imagens e cores.
E palavras. E música.



segunda-feira, novembro 15, 2004

Dias de Luz

Era o tempo mágico da infância. Tempo que se prolongava por quatro intermináveis meses, em que todos os dias eram iguais, sempre povoados por risos quentes e cheiros doces a fruta de verão e marisco acabado de vir do mar...Curiosamente, nunca chovia, nem havia nuvens no céu. A praia, branca e azul era só nossa... O mar estava sempre ali, todas as manhãs... esperando pelos nossos corpos infantis, que se confundiam com as medusas e sereias, num jogo, só compreendido por quem ainda tinha os olhos abertos de espanto.

Os anjos da guarda das crianças (felizmente, cada uma de nós tinha o seu) acompanhavam alegremente as nossas terríveis aventuras, de fugas em pequenos botes de madeira ou em colchões de borracha, transfigurados em caravelas, desafiando os monstros marinhos...explorando grutas de piratas, onde os tesouros esperavam por nós.
Nas arcas mágicas (baldes de plástico transportados com todo o segredo) guardávamos então os tesouros, que escondíamos bem fundo na areia tão quente, por trás das muralhas do castelo (ou atrás das barracas do Sr Serafim...).

Éramos os reis do mundo, piratas bons, que apenas roubavam ao mar o que ele generosamente nos dava.

Findo o jogo, era tempo de procurar refúgio, não fosse o Cabo do Mar (na sua farda brilhante e intimidadora) descobrir as nossas pilhagens.
Confesso, que este medo me fazia abandonar os meus companheiros e correr pela praia fora, corpo franzino e ágil, coberto com uma pequena tanga, (ainda não chegara o tempo de cobrir pudicamente o corpo de mulher que se avizinharia), cabelo comprido e molhado que se colava à cara, mergulhar no mar que me acolhia e depois rebolar na areia branca e quente até ficar disfarçada, irreconhecível, como os índios mascarados de areia...
Agora sim.... estava quase a salvo. Faltava apenas chegar àquele toldo branco onde ele estava deitado numa cadeira de lona, lindo na sua camisa branca e calças cinzentas, boné de lobo do mar... e enorme como um gigante protector dos pequenos piratas.
Eu chegava ofegante... sentava-me à sua sombra, que me cobria toda e sentia o seu cheiro... quente e doce... cheio a pai... misturado para sempre com o cheiro a coco dos bolos do Sr. Embaixador e da maresia que se entranhava nos nossos cabelos. As mãos grandes de pai limpavam-me então as costas suavemente, sacudindo a areia que se colara à pele como um vestido. E eu oferecia-lhe um tesouro que roubara ao grupo. Um búzio... por onde ambos ouvíamos o mar lá ao longe... onde não havia mais ninguém, a não ser nós dois.
Não eram precisas mais palavras... os outros, os mais velhos, quando chegavam, das suas aventuras de gente grande, traziam os gritos da adolescência, roubavam-me o meu príncipe encantado... que nos amava a todos, com a sabedoria de quem sabe amar...

O meu momento terminara... mas ficaria para sempre a cor da sua camisa branca e o seu cheiro doce de ternura.

terça-feira, novembro 09, 2004

Pai

Há memórias que ficam por aí nas caixas de recordações que deixamos nas gavetas cor de mogno da recordação. De vez em quando as memórias saltam das gavetas, e ganham novas vidas.

Tenho um AMIGO que me dá prendas. Tantas prendas... Vá-se lá saber porquê. Ontem deu-me esta:


foto do Efe Castelo

Esta fotografia é tão doce como a memória que tenho do meu pai. Estes eram os doces que ele me trazia, ao fim de dias de saudade, envolto em luz e calor. Mas dos doces chamados Dons Rodrigos falarei outro dia. E da doçura de uns olhos cor de azul...
Hoje fui buscar uma estória de amor de despedida e de reencontro.



Pai

Em memória a ambos


Ele era caçador. Tinha vários cães, esbeltos e de pelo sedoso. Usava à cintura as perdizes que se deixavam apanhar.
Sei isto, porque roubei o momento a preto e branco disfarçadamente e guardei-o junto a outros momentos desfalecidos pelo tempo.
Um dia Ele passou a gostar de pássaros e dedicou-se ao tiro aos pratos. Isto sei pelas taças brilhantes que tirava das prateleiras quando ninguém via, e voltava a colocá-las cuidadosamente no sítio do espanador do pó; e pelos canários que esvoaçavam de vez em quando pelas salas fora, provocando ondas de amarelo deliciosas e gritos de zanga Dela. Ele também gostava de cágados que comprava aos montes e que desapareciam inexplicavelmente ao fim de poucos dias. (Mas não é dos cágados que se fala agora, essa estória será para um dia mais cinzento)

Ela detestava os cães, os pássaros, os cágados e muitas outras coisas Dele. Andei muitos anos para perceber de que coisas gostava Ela.

O último cão já não caçava. Era rafeiro e o maior gozo Dele era soltá-lo na praia dos meus desejos ao por do sol e deixá-lo correr que nem um louco. Era um cão pequenino, mas muito corajoso. Atirava-se aos cães grandes e eu morria de medo que o matassem.

Um dia o cão rafeiro ficou velhinho. Era a hora dele, toda agente sabia. Era de noite e o cão precisava de dizer adeus. Deitou-se no colo Dela, olhou-A uma última vez. Ela nunca amara aquele cão nem as corridas pela praia que lhe roubavam mais tempo e tempo de um tempo que nem ela sabia que se esgotaria um dia. Mas era ela que lhe dava de comer.
O cão rafeiro com nome de personagem de conto de fadas, deitou-se no colo dela, olhou-a uma última vez e morreu de mansinho.

Isto também sei, porque eu estava sentada de pernas cruzadas no chão da cozinha e vi as lágrimas no rosto Dela. Lágrimas novas para mim. Gotas que eu desconhecia serem vindas de uma alma que eu não sabia a quem pertenciam.

Ele... o Príncipe das minhas estórias...Ele não conseguira ver o cão partir, não estava lá nessa hora em casa, não teve coragem de o segurar no colo, esqueceu-se da hora, sei lá?
As razões ficam para outro dia. As razões nunca serão minhas nem nossas.

O nosso rafeiro morreu, enfim, à espera do seu dono. Só Ela e eu estávamos lá. Nunca percebi porquê.

Só ao fim de séculos percebi afinal porque éramos apenas mulheres na cozinha.
E soube dolorosamente quem ela o amara sempre.

texto editado num dia de pai em mulheres em chamas

domingo, novembro 07, 2004

Gotas de Azul



O dia amanheceu feito de luz e de azul.
E desenho-te a cores, personagem de sonhos passados e de desejos de vida futura.
E construo o teu caminho em estradas de palavras e sonhos e ilhas.
E depois desenho-te os monólogos, invento-te outras personagens para contracenar com os teus sorrisos e os teus suspiros de sereia fora de água.

- Queres ouvir o que as minhas palavras não dizem? - oiço-a a dizer enquanto eu te acabo de inventar.
- Dou-te o verde dos meus silêncios - oiço-o a ele ou a ti, de memória.
- Sabes qual é a minha cor preferida? – pergunta ela outra vez, enquanto eu procuro uma nova tonalidade de pantone por inventar…

Desisto do diálogo. Já te pintei de todas as cores. Já te fiz mulher, boneca, palhaço, pai e sonho. Invento-te agora uma nova estória. Vou deixar que te levem. No teu lugar, apenas o azul das gotas de água.
E um bilhete escrito a branco:

ela encontra-se em destino incerto
levei-a para que se encontre
prometo tratá-la bem

segunda-feira, novembro 01, 2004

Confissões

Confesso-me agora que já não tenho tempo para me corrigir.
Eu sou uma farsa. Eu sou uma treta. Eu sou apenas um sonho meu.
Confuso, complicado e sem nenhuma ligação com a realidade. Ou será que não sou nada disto?
Na minha cabeça correm memórias sem ligação aparente. Um conjunto de nomes femininos com forte entoação no plural.
Surgem por ordem alfabética, sendo que o alfabeto neste caso é o tempo ordenado de forma aleatória e perfeitamente desordenada.
Mergulhado num mar de whisky e drogas leves, perdi-me por completo no contorno de corpos frágeis e efémeros.
As Marias, as Manuelas, as Fernandas e as Cristinas. As Sofias, as Susanas, as Carolinas e as Andreias.
Na minha mente surgem indefenidas e misturadas numa só.
Quero ser outra pessoa. Quero ser a pessoa que já fui sem saber que iria ser.
Estou confuso. Já não sei o que é real e o que é ficção. O pior é que não sei sequer se quero saber.
A vida corre mais rápida que o tempo marcado pelo relógio que alguém me ofereceu em sinal de carinho.
Só me ocorre um final. E nele não quero eu pensar.
Confesso-me parvo e delinquente. Confesso-me atordoado e adormecido. Fraco e obscuro.
Refugio-me inesperadamente na minha mais recente criação amorosa e lá me deixo pousar firmemente.
A vida não é o que eu penso nem tão pouco o que vejo ou sonho.

A verdade é que não sei o que sou.
Homem, animal ou simplesmente uma sombra.
Sequei. Não quero mais memórias nem sequer oportunidades de as ter.
Quero ser feliz mas não posso. Não posso nem devo. Não as mereço e pronto!
Afinal, sou muito mais do que já fiz e do que deixei de fazer, não?

Não me lamento, mas arrependo-me de tanta coisa.
Já não sei o que sou. Desisto. Não me permito mais sonhar com a realidade.
Hoje quero ser apenas um desejo. O meu desejo!

Há uns tempos escrevi um pedido de desculpas que não significava nada em concreto.
Hoje reli-o e vi-me nele como nunca me tinha visto antes.

Que me desculpem esta necessidade de pedir desculpas,
Mas desculpem a minha ignorância.
Desculpem também as minhas falhas e as minhas hesitações.
Desculpem os meus dedos, e também porque não, os meus medos.
Desculpem as minhas ideias e os meus sonhos
E já agora desculpem igualmente os meus pensamentos enfadonhos.
Desculpem a minha teimosia e a minha forma de estar
Desculpem o que digo e também o que não digo
Desculpem a minha memória e a minha histeria
E pelo sim pelo não, desculpem também a minha euforia.

Que me desculpem esta necessidade de pedir desculpas,
Mas desculpem a minha ignorância.
Desculpem também a minha hipocrisia e a minha sinceridade
Desculpem as minhas incoerências e as minhas meias verdades
Desculpem os meus desejos, e também porque não, os meus belos cabelos
E já agora desculpem igualmente esta falta de vontade
Desculpem as minhas hormonas e os meus hematomas
Desculpem o que escrevo e o que mantenho em segredo
Desculpem a minha distancia e a minha importancia
E pelo sim pelo não, desculpem também a minha arrogância.