quarta-feira, dezembro 29, 2004

Por enquanto

Enquanto espero que as minhas palavras me revisitem, visito eu as coisas de que gosto. Como esta foto que uso como fundo no meu olhar.



do Efe, pois claro.

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Natal

E aqui se faz uma pausa nas vidas da Conchita e do Paco que desejam a todos os bloguistas amigos um Natal Feliz e Boas Festas (pelo corpo todo...)

A nossa prenda de Natal é um poema. De um dos reis da poesia.

Vinícius De Moraes
De repente o sol raiou
E o galo cocoricou:
— Cristo nasceu!
O boi, no campo perdido
Soltou um longo mugido:
— Aonde? Aonde?
Com seu balido tremido
Ligeiro diz o cordeiro:
— Em Belém! Em Belém!
Eis senão quando, num zurro
Se ouve a risada do burro:
— Foi sim que eu estava lá!
E o papagaio que é gira
Pôs-se a falar: — É mentira!
Os bichos de pena, em bando
Reclamaram protestando.
O pombal todo arrulhava:
— Cruz credo! Cruz credo!
Brava
A arara a gritar começa:
— Mentira! Arara. Ora essa!
— Cristo nasceu! canta o galo.
— Aonde? pergunta o boi.
— Num estábulo! — o cavalo
Contente rincha onde foi.
Bale o cordeiro também:
— Em Belém! Mé! Em Belém!

E os bichos todos pegaram
O papagaio caturra
E de raiva lhe aplicaram
Uma grandíssima surra.

Beijos da Lola e do Michel

segunda-feira, dezembro 20, 2004

As pontes do desejo



São enormes e belas as pontes do desejo
Estou entre duas margens
Sei de onde parti, nunca sei onde chegarei
Gosto de atravessar uma ponte
Fecho os olhos e sinto-me num mundo de sonho.

Hoje entraste no meu sonho. Eu tinha partido há pouco tempo numa viagem estranha, confusa, cheia de vozes e pessoas que passavam por mim tão depressa que nem me viam.
Tentava atravessar a ponte para chegar à outra margem e de repente já não era a ponte, nem o rio, nem as luzes do crepúsculo, nem o cheiro da cidade.

Agora eras tu que entravas no meu sonho e no meu quarto e me beijavas em silêncio. Com uma carícia no meu rosto apagaste o ruído que me assustava. Com um abraço doce embrulhaste-me no teu perfume de homem.

Agora já não havia ruas, nem pessoas, nem cidades nas margens da ponte, nem cores fortes que me feriam os olhos.

Agora era o meu corpo nu que se transformava na ponte do teu desejo. Agora era o teu olhar que me desenhava em abraços e beijos que já não eram meus nem teus. Eram nossos. Agora era o teu corpo nu no meu, e a tua pele era o meu prazer e o meu sorriso era o teu gozo.

Agora apagavam-se as margens. Apenas no meu caminho, a ponte onde fomos desejo, onde fomos prazer, onde fomos silêncio e gritos sufocados.

Agora tu e eu éramos a ponte, onde conseguimos parar o tempo.
E desapareceram as margens.


domingo, dezembro 19, 2004

Um dia na sorte

porto.jpg

Lindo dia este! O sol brilha forte, as ideias fervilham de calor e
sinceramente não consigo imaginar melhor lugar para viver que esta
cidade cinzenta.
Podem dizer de tudo, que é feia, que é fria, que tem montes de
subidas e descidas, mas para mim é simplesmente perfeita.
Claro que sou um optimista incorrígivel, mas que mal tem isso?
Foi aqui que cresci, foi aqui que aprendi a ser quem sou, foi aqui que
comecei a amar...
Olho o rio com ternura e observo as taínhas a saltitar na água em sinal
de contentamento.Relembro vários momentos da minha vida, e dou comigo a pensar naqueles que por vários motivos foram desaparecendo da minha vida.
Os amiguitos da escola primária, a primeira namorada, os familiares já
falecidos, os amigos que optaram por não viver mais...sinto falta deles
todos sem excepção. Mas a vida não para...apenas se vai modificando.
Todos os dias se configuram de modo distinto, fazendo-me acreditar que o melhor ainda está para chegar.
Um dia serei completo...ou mais completo.
Quem sabe no ano que vem não chega por fim a felicidade total?
Muitos ficaram para trás...por certo também terei ficado para trás para
alguns...Que importa?
Estamos todos no mesmo lugar...vivemos, amamos, respiramos, suamos...
Somos todos iguais, no entanto viva as nossas diferenças!
Vou gozar o dia.
Com sorte, hoje encontro a minha sorte.

sábado, dezembro 18, 2004

Once upon a time there was me

Há muito tempo atrás, conheci um plantador de árvores. Todos os dias de manhã, plantava uma árvore no espaço de ninguém. Deixava a árvore para ser regada por quem lhe soubesse ler a alma.
Amei estas árvores nas minhas manhãs. Despedi-me do plantador, quando ele seguiu a sua caminhada para outros mares.

Depois, comecei eu a tentar plantar sorrisos. São mais leves que as árvores, têm alma e por vezes, quando estamos muito atentos, podemos ver um anjo a beijar o sorriso que plantámos.

Quando encontramos um sorriso desses, beijado por um anjo, fazemos-lhe uma carícia e deixamo-lo voar…


Efe

Esta fotografia do Efe sempre me fez lembrar o filme Nas Asas do Desejo do Wim Wenders

Na Berlim pós-guerra, dois anjos deambulam pela cidade. Invisíveis aos mortais, eles lêem os seus pensamentos e tentam confortar a solidão e a depressão das almas que encontram. Entretanto, um dos anjos, ao apaixonar-se por uma trapezista, deseja tornar-se um humano para experimentar as alegrias de cada dia.







Gosto muito de anjos. Conheço alguns. Garanto-vos que eles estão entre nós. E plantam árvores e beijam sorrisos

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Flash

We only lost what we think we have

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Foto de Alberto Monteiro
publicada em

terça-feira, dezembro 14, 2004

Busca

Andei o dia todo às voltas com os nomes.
Registos. Certificados. Diplomas. Nomes que se fazem em letras.

Conheço todos os nomes que escrevo.
Não têm cara, apenas música nas letras que desenham estórias que adivinho.

Gosto de nomes. Gosto das pessoas cujo nome saboreio quando penso nelas.

Quis inventar um novo nome para mim. Não consegui.
São tantos os que uso.
Tantos apenas para mim…

Hoje andei às voltas com os nomes.
Procurei o teu. Procurei um beijo por detrás do nome.

Enganei-me no teu nome. Será que ainda te lembras do meu?

Os afectos são uma coisa do arco-da-velha.
Feitos de saudades e desejos. E polvilhados com açúcar e canela.
Como os nomes desconhecidos que só aparecem nos sonhos.



Fio de Luz do Efe

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Re-Lembranças

Memórias de um verão adormecido, ou mais um re-post de lembranças que nem eu sei se algumas vez foram reais.

Olhei lá para fora através da varanda semi-aberta.
A noite parecia querer chegar ao fim, no entanto a lua ainda respirava ofegante soltando os seus ultimos raios num bocejo infindável.
Relembrei-me do tempo que perdi até hoje a não fazer nada e mais uma vez classifiquei-o de muito importante.
É nesse tempo que sonho contigo, e é nesse mesmo tempo que sonho comigo.
Procurei entender porque me amas, apenas para descansar a minha insegurança e recordei as palavras que saem com frequência da tua boca.
- Amo-te...Fazes-me completa...Feliz...Absolutamente tranquila!
Sim...Tu fazes-me o mesmo efeito!
Veio-me á memória aquele dia já tão distante, em que adormecemos dentro do carro e acordamos já de manhã rodeados de vida real.
Éramos um ser só. Tenho a certeza absoluta disso!
Lembro de me ver reflectido no teu olhar e ver o dia de hoje, como se fosse o presente.
Eu sei porque me amas...Amas-me porque não existe a mais mínima possibilidade de existir outro alguém que me faça tão feliz.

Hoje redescobri o amor.
Estava ali, guardado dentro de mim, à espera de ser despertado.
Surgiu lentamente, mostrando-se gradualmente mais e mais descomplexado.
Olhei á minha volta e só via cores magníficas! Imperatrizes gloriosas em noite de gala!
Sabes uma coisa?
O amor tem o teu cheiro, o teu olhar, até mesmo o teu sabor...e que sabor, pá!
Lembro-me sem esquecer dos teus braços á volta de mim e do arrepio que me fazes sentir em cada gesto teu, em cada toque e carícia que me ofereces.
E espero por mais, e mais e mais...Desta feita não te acordo.
Sento-me na cama a ver-te dormir, bela e tranquila.
Estou cansado, mas faço questão em ver-te acordar por ti.
Quero que a primeira coisa que ouças hoje seja o meu - Amo-te - e depois estarei preparado para enfrentar o resto do dia.

domingo, dezembro 12, 2004

Um desenho a lápis

Gosto de poemas de amor.
Dos que nascem dum beijo desenhado a carvão
e que se vão pintando multicores
no meu corpo.

Quando me desenhares,
será enfim natal



Fotografia de Marília Campos,

Porque amo a tua amizade...Porque eu precisava de uma cor para o meu dia...

Obrigada pelas tuas fotografias. És uma estrela.


© fernando gabriel


quinta-feira, dezembro 09, 2004

Inconfessável

Desenha uma linha.
Traça-a sem régua nem esquadro

O primeiro ponto esconde-se no meu lábio
Devagar segues a linha pelo queixo
Contornas o pescoço em rotundas de espiral
Encontras uma duna num dos ombros
E percorres a estrada de arrepio
Contornas a cintura que se move
Levas a linha até ao centro
Ponto onde tudo começou.

A tela dá uma gargalhada
Cócegas no umbigo…

Continuas a viagem
Uma planície macia
Uma linha que se insinua
Um dedo que desenha uma linha
No meu corpo. Até chegar ao destino esperado.

Chegaste. O desenho está completo.
A linha cumpriu o desejo.

LolaViola



António Ramos Rosa
Se eu falar
é este o caminho dos teus cabelos
da tua boca
cada palavra treme
com o tremor dos teus pulsos
com a loucura feliz
desta mão que ascende
sobre o teu corpo
e desce
ao fundo
á água
do teu sexo
e beijo o teu nome
entre os teus dentes.

in, Matéria de Amor

quarta-feira, dezembro 08, 2004

Coisas doces sem açucar

Existem duas coisas sem as quais não consigo passar.
Uma delas é segredo a outra terão de a adivinhar.
Uma faz-me rir a outra faz-me sonhar.
A primeira é doce e sem nenhum preconceito.
A segunda é gostosa e dizem que sente-se no peito.
Estranhamente uma divide-se por muitos
A outra?Essa partilha-se apenas com um.

Confesso que não as ordeno e nem tão pouco as questiono, mas sei porque sei que sim que é pelas duas que como, durmo e que por vezes até choro.
São no entanto duas coisas sem as quais não consigo passar.
Uma já disse que é segredo. A outra desculpem, mas terão de a adivinhar.

terça-feira, dezembro 07, 2004

Só uma frase

Quando estou muito triste, abro a janela e espero que a Lua ainda me sorria em noites de magia...



Fotografia de Emanuel Martins

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Intervalo

Intervalo de Mim


erótica

o erotismo é a arte dos corpos em encaixe
o erotismo é a arte do amor desenhado
numa tela com sabor a pele e línguas.

o erotismo desenha-se sem lápis
nem caneta
nem sequer precisa de teclado

o erotismo pinta-se suavemente
com um pincel macio no teu corpo
em arabescos de descoberta

o erotismo fotografa-se cuidadosamente
no meu corpo
sem lentes nem técnicas de luz
surge em imagens no teu olhar

o erotismo é o meu sorriso feliz
aberto no corpo que te ofereço
é o meu cabelo cor de fogo
que beija o teu corpo em chamas
é apenas o suspiro
que te faz desejar


sexta-feira, dezembro 03, 2004

Timeline

Um dia destes aprendi esta palavra. É de fácil tradução, mas eu nunca a tinha (in)traduzido para dentro de mim.

E mostraram-me o que se pode fazer com fotografias, com o tempo e com a linha que nos leva por esta vida fora.
Apeteceu-me fazer uma timeline só minha. Iniciei a busca às minhas fotos, iniciei uma viagem às memórias. Pesquisei.

Seria assim.

Gostaria de ter uma fotografia minha por cada momento em que fui feliz.

Uma com aroma a maresia e a gasolina dos barcos
Uma com a cor quente duns olhos cor de cinza
Uma por cada natal em que tive o meu pai
Duas com a textura da pele dos meus filhos na primeira vez em que toquei em cada um deles
Uma por cada vez que ouvi a palavra amo-te
Outra por cada vez que eu a disse
Uma pintada com as minhas lágrimas depois de fazer amor de corpo e alma
E uma por cada pessoa que eu fui capaz de fazer feliz… Apenas por um momento. O tempo imenso que demora a fazer uma fotografia.

Sobre os momentos infelizes.. aprendi outra forma de as registar em fotos:
Esquece, mas não esqueças. A vida é feita de memórias.


Obrigada Efe, por me mostrares como se tiram fotografias.